16/09/2010

O professor como condutor do processo de aprendizagem

A mesma profissão seguida por tias, avós e a mãe atraiu Juliana Pereira de Souza e a fez deixar para trás uma carreira de sucesso. A professora, que é formada em marketing, é mestre em Comunicação e Linguagens e doutoranda em Tecnologia, partiu para uma vida cheia de altos e baixos, mas principalmente de satisfações. Hoje se define como apaixonada pela profissão, pois acredita que pode fazer a diferença na construção de uma sociedade mais justa e fraterna. Para isto, desenvolve pesquisas científicas nas áreas de comunicação, design com ênfase em personagens, teorias da comunicação e brinquedos.
 
Na edição nº 140 do BOLO*, Juliana respondeu a seguinte entrevista à equipe do Projeto Ler e Pensar:
 
Ler e Pensar: Como você se tornou professora?
Juliana Pereira: Era formada em publicidade e propaganda com especialização em marketing e trabalhava como gerente de marketing e comunicação para uma grande empresa de Curitiba, atuando com criações de peças publicitárias, organização de eventos… Foi quando resolvi realizar o antigo sonho de ser professora. Pensava já em mestrado e em construir uma carreira docente paralela à vida profissional que levava quando fui admitida, mesmo sem experiência, para lecionar no ensino superior em disciplinas de introdução a publicidade e marketing. Foi, como se diz, com a "cara e a coragem" que marquei uma entrevista com a coordenação do curso de comunicação e depois de uma semana entrava em sala de aula com sessenta alunos.
 
LP: Diante deste desafio, como você se preparou?
Juliana Pereira: Não tive nenhuma preparação pedagógica. Procurei fazer sempre melhor do que havia experimentado como aluna, espelhando o comportamento de meus melhores professores e evitando atitudes negativas que presenciei na história de minha vida discente. Parece que a fórmula funcionou e já tenho nove anos de docência superior. Também acrescento a herança familiar nesse sucesso: minha família toda é de professoras do ensino fundamental – tias, avós, mãe.
 
LP: Ao longo de sua trajetória, como vê a relação entre o professor e o aluno?
Juliana Pereira: Minha experiência como docente é marcada por altos e baixos, alegrias e frustrações, como pólos opostos em uma mesma sala de aula. Não existe meio termo na formação de um aluno. Digo isto porque a expectativa do professor, quando se começa o ano letivo, deve ser sempre a melhor e a mais otimista, desde a preparação do plano de ensino até o encerramento do ano/semestre. Deve-se buscar desenvolver junto com o aluno as suas competências, respeitando suas limitações e com a humildade de aprender também com ele. O que acontece no caminho é que gera frustração: percebo desinteresse no aprendizado por parte do aluno, o imaginário dele constituído pela idéia de que estudar é um castigo, um sofrimento, que precisa "tirar a melhor nota" porque pode sofrer castigos na família, no trabalho (como perder a bolsa auxílio, a mesada, o carro). Uma visão de vigilância sobre os estudos, praticadas por agentes sociais próximos como a família ou o trabalho. Uma pena. Sempre me pergunto se não estou imaginado "qual seria o aluno ideal?" Confesso que ainda não tenho resposta para isso.
 
LP: Essa relação difícil dos alunos com a aprendizagem e os estudos seria uma influência dos meios de comunicação?
Juliana Pereira: Percebo que cada vez mais os meios de comunicação fortalecem a educação informal na vida dos alunos, trazendo referências globais para a formação cultural. Nada negativo se pensarmos que esses discursos vêm para a sala de aula e o professor poderia contextualizar sua aula com discussões para a formação do senso crítico, bem ao modo "Freiriano". Mas isso não acontece. Por outro lado, preocupa-me a falta de senso crítico do aluno que acaba por tomar o discurso das mídias de forma absoluta em sua vida, criando a falsa sensação de que já sabe tudo, que a escola é mera formalização para o trabalho.
 
LP: Qual a sua expectativa para a educação, em um futuro próximo?
Juliana Pereira: Acredito que precisamos, nós professores, desde já, nos adaptar ao aluno que está em constante transformação: evitando a ideia de educação depositária de conteúdos; valorizando os discursos e as experiências de cada aluno na sala de aula; contextualizando o conhecimento humano na experiência "real" da vida prática. Livros e experiências, questionamentos, competências, educação formal e informal, cultura e contextos. A minha visão positivista da educação reflete a idéia de um aluno autor de seu próprio conhecimento e de um professor orientador, condutor do processo.
 

 *Boletim de Leitura Orientada, jornal quinzenal direcionado aos professores participantes do projeto Ler e Pensar, com sugestões para o uso pedagógico do jornal.