13/10/2014

Ler e Pensar: o jornal e a expressão oral

Trecho da matéria publicada na edição 213 do Boletim de Leitura Orientada (Bolo), do projeto Ler e Pensar

Ao perceber as dificuldades de seus alunos para falar em público e sintetizar as ideias com base na leitura de um texto, a professora Nivia Pytlowanciw de Paula (foto), que atualmente coordena a Unidade de Educação Integral Pró-Morar Barigui, em Curitiba, decidiu testar uma nova metodologia de trabalho em sala de aula. Participante do Ler e Pensar desde 2009, a docente viu no jornal Gazeta do Povo a possibilidade de trabalhar tanto a expressão oral, quanto a interpretação e síntese de ideias. O que foi possível já que a UEI recebe o impresso diariamente, graças ao padrinho Instituto HSBC Solidariedade.

A ideia é relativamente simples:  a partir de um tema principal, os alunos selecionam as notícias relacionadas e fazem a leitura em silêncio. Depois, em duplas, contam para o restante da turma do que se trata a matéria. As atividades, em cima de cada notícia, são feitas na sequência e abrangem desde pesquisas, registros, produções textuais até a exposição dos trabalhos elaborados.

A técnica tem dado certo, tanto que este já é o terceiro ano que Nivia trabalha dessa forma. “Tivemos diversos avanços, principalmente na desenvoltura dos alunos. Estão mais desinibidos para falar em público e não apresentam mais aquelas expressões corporais que indicavam timidez, como torcer a blusa”, cita a docente. Resultados também na leitura. “Antes eles liam decifrando as letras, hoje interpretam, a leitura flui”, observa.

Nivia conta que, neste ano, teve boas surpresas com alguns estudantes das turmas do 4º e 5º anos. “Temos exemplos de alunos que não sabiam ler, repetentes, que fugiam das apresentações, mas que depois dessas atividades se revelaram os melhores da sala. Claro que ainda há muito trabalho, mas a maioria evoluiu”, comemora.

O papel do jornal
O fato de o jornal abordar temas variados, trazer fotos e, principalmente, fatos verídicos e próximos à realidade dos alunos foi essencial para os bons resultados, acredita Nivia. “Eles se sentem mais seguros ao falar de assuntos que conhecem ou se identificam. E isso facilita a desinibição, pois podem comparar o que leram com os conhecimentos que trazem de casa, da vizinhança, ou que viram na TV”, explica.

A segurança dos estudantes não se resume apenas às apresentações em público. Desenvoltos, eles também estão se mostrando mais preparados até para ajudar os colegas. Pablo Henrique Gonçalves Pereira é um deles. “Quando fazemos a leitura do jornal em sala de aula, gosto de ajudar os amigos que não conseguem entender o assunto da notícia. Sinto como se fosse um professor que ensina e, ao mesmo tempo, que sou um aluno aprendendo ainda mais”, diz Pablo.

Aposte no aluno
Persistência é a palavra-chave e dica principal que Nivia dá para as colegas. “Não podemos desistir. É difícil trabalhar com alunos que apresentam dificuldades como aquelas e não vai ser em uma, nem duas ou três aulas que conseguiremos mudar a realidade. É a longo prazo, com persistência. O segredo é apostar no aluno, pois o progresso vem e quando percebermos essa evolução, teremos a certeza que vale a pena insistir e tentar novamente”, conclui.