Trecho da matéria publicada na edição 212 do Boletim de Leitura Orientada (Bolo), do projeto Ler e Pensar
Abrir os portões da escola e trazer a comunidade para o universo escolar é um dos grandes desejos de quem trabalha com educação. Afinal, a aproximação só traz benefícios aos envolvidos. O desafio, no entanto, é como fazer essa integração e ter bons resultados. Nesta edição, trazemos o exemplo da Escola Municipal Wenceslau Braz, de Curitiba, que usou a Gazeta do Povo para começar o movimento. A escola recebe o impresso diariamente graças ao padrinho Instituto HSBC Solidariedade, que subsidia a assinatura.
Tudo começou nas aulas de Ciências, disciplina ministrada por Mariana de Oliveira Tozato (foto). Estreante neste ano no Ler e Pensar, a docente decidiu inserir o periódico nas atividades desenvolvidas com 73 alunos do 2º ano da escola. “Com o jornal é possível articular as situações concretas do dia a dia dos alunos com os conteúdos curriculares”, avalia a professora.
Primeiramente, os alunos pesquisaram conteúdos sobre o acúmulo de resíduos nas cidades. As peças publicitárias da campanha “Reduza, reutilize, recicle, faça sua parte”, da Prefeitura de Curitiba, publicadas no jornal, inspiraram os estudantes a criarem suas próprias iniciativas. Em produção coletiva, cada turma pensou em novos temas para uma campanha de conscientização, produziu os textos e confeccionou cartazes. Os materiais foram expostos no mural de entrada da escola. “A ideia era termos uma primeira interação educativa sob a perspectiva de conscientização ambiental”, explica Mariana.
A vez da comunidade
A atividade com jornal ganhou outra dimensão entre maio e junho, quando fortes chuvas atingiram o Paraná deixando diversas cidades embaixo d´água. A região onde está situada a escola, próxima ao rio Belém, foi uma das afetadas pelas enchentes. Famílias de alguns alunos perderam seus bens e o assunto tomou conta da realidade da escola. “Eles traziam situações reais. Contavam sobre a perda dos brinquedos, dos móveis”, lembra. Observando a situação, a professora decidiu chamar os pais para a escola, iniciando o processo de integração entre a instituição e a comunidade. “Enviei um bilhete para alguns pais ressaltando a situação da nossa comunidade, convidando-os para virem até a escola para conversarmos sobre os problemas e discutirmos soluções”, explica.
Como já estava trabalhando com os alunos três notícias sobre a temática – Despoluição do rio Belém, GPS mapeando as nascentes do Rio Belém e Aconteceu de novo! Chuva deixa Paraná embaixo d' água – a professora decidiu discutir os mesmos assuntos no encontro com os pais. Um grupo de alunos foi selecionado para participar da atividade com as famílias, feita durante o horário de permanência da professora.
A prática
Na escola, alunos e familiares fizeram a leitura das notícias, dialogaram sobre o assunto e partiram para uma pesquisa de campo no rio Belém. Eles observaram a situação após as fortes chuvas e comprovaram a leitura. De acordo com Mariana, a visita despertou percepções sobre a necessidade de um trabalho com a comunidade para reduzir o acúmulo de lixo no rio. “Eles também perceberam que o jornal pode ser um instrumento educativo de conscientização”. Com esse foco, a professora conta que já começaram a delinear as próximas atividades, que envolvem pesquisa em jornal, produção de anúncios e panfletos a serem entregues na escola sobre a importância da preservação do rio Belém, e a organização de um mutirão com alunos e familiares para a coleta de lixo nas margens do rio e plantio de mudas nativas.
*Crédito da foto: Euclides Machado