Como o mundo digital mudou a nossa relação com a palavra escrita
Você sabia que lemos muito mais hoje do que as gerações anteriores? Eu sei, essa é uma afirmação contra intuitiva, afinal é visível que, como sociedade, temos nos afastado dos livros, em especial das leituras mais desafiadoras e estimulantes. E isso nos trouxe imensos prejuízos.
É através da leitura e em especial da literatura que nos aproximamos da experiência do outro, compreendemos melhor o mundo a nossa volta e adquirimos novos conhecimentos de uma forma muito ativa e particular, habitando o espaço do meio entre nós, as palavras e o autor. E um dos motivos de termos cada vez menos tempo e vontade de abrir um livro pode ser justamente porque lemos cada vez mais.
Uma pesquisa do Global Information Industry Center, da Universidade da Califórnia em San Diego, concluiu que um indivíduo médio consome diariamente cerca de 34 gigabytes de informação, em vários dispositivos, o que equivale a cerca de 100.000 palavras por dia. Lemos tudo isso, mesmo sem perceber.
Desde que migramos para o mundo digital e passamos a realizar a maior parte das nossas tarefas através das telas, é como se estivéssemos mergulhados em um enorme livro de recortes, cheio de imagens e palavras, conteúdos dos mais diversos tipos e com as mais diversas finalidades. Basta abrir uma rede social para ter o seu cérebro inundado por propagandas, discussões, entrevistas, notícias, enquetes, manchetes, charges, gráficos, dancinhas, desabafos, pedidos, anúncios…
Por termos acesso a todas essas palavras constantemente, podemos dizer que, de certa forma, lemos mais. Mas são tantas informações de uma só vez que, se fôssemos parar para compreender cada palavra que entra em contato com nossos olhos, ficaríamos loucos! Percebendo que seria impossível processar devidamente todas as palavras que chegam até ele, nosso cérebro criou um mecanismo de defesa muito simples: para ler mais, precisou abrir mão da qualidade da leitura.
Desenvolvemos o que a professora e pesquisadora norte-americana Maryanne Wolf chama de preguiça cognitiva: um estado de estagnação intelectual em que nos tornamos leitores cada vez mais passivos: menos concentrados, superficiais e, consequentemente, menos críticos.
Mas calma! A solução não é simplesmente sair do celular ou do computador, até porque o mundo digital facilitou e muito as nossas vidas, não é mesmo?
Se desejamos viver num mundo inundado por informação e ao mesmo tempo sermos capazes de nos dedicar a leituras mais densas e profundas, se almejamos nos permitir a lentidão e introspecção de uma longa e agradável leitura e também usufruir da velocidade e praticidade das redes sociais, e também fazer as duas coisas ao mesmo tempo (como ler este texto no jornal digital, por exemplo), então precisamos nos dedicar igualmente aos dois mundos.
Se você quer ler mais e melhor, comece dedicando um pouco do tempo e da atenção que dá às redes sociais todos os dias às leituras mais desafiadoras– não precisa ter pressa para terminar ou fazer uma lista enorme de livros para ler (afinal, como vimos, quantidade e velocidade nós já temos!).
E se você é professor(a) da rede pública e básica de ensino, de qualquer lugar do Brasil, e além de se preocupar com os seus hábitos de leitura se preocupa também com a formação leitora dos seus estudantes, não deixe de conferir o curso “Leitura: o mundo além das palavras”, oferecido pelo Instituto GRPCOM de forma 100% gratuita!
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