Brasil é o segundo colocado no ranking global do tempo de tela
O dia tem 24 horas. Se considerarmos que, em média, passamos 8 horas trabalhando e 8 horas dormindo, sobram apenas 8 horas para o resto da vida – lazer, família, amigos, descanso. Mas e se dissermos que os brasileiros gastam mais de 9 horas diárias conectados a celulares e outros dispositivos?
O Brasil ocupa uma posição nada invejável no ranking global do tempo de tela. Segundo a pesquisa Digital 2024: 5 billion social media users, realizada pela We Are Social e Meltwater, os brasileiros passam, em média, mais de 9 horas por dia on-line. Isso nos coloca como o segundo país do mundo onde as pessoas mais dedicam tempo à internet.
Digital 2024: 5 billion social media users, realizada pela We Are Social e Meltwater
Mas o que essa hiperconectividade significa na prática? Estamos ganhando tempo ao acessar tanta informação e nos conectar com o mundo, ou só deixando as horas passarem em um fluxo ininterrupto de conteúdos que logo esquecemos?
O tempo que passamos on-line pode ter impactos profundos na saúde mental, no foco e até mesmo nas relações sociais. O que antes era uma ferramenta de comunicação e acesso à informação se transformou em um ambiente de hiperestimulação constante, que afeta o cérebro e dificulta o descanso cognitivo.
Não à toa, a palavra do ano de 2024 escolhida pelo Dicionário Oxford foi “brain rot” – um termo que pode ser traduzido como “podridão cerebral”. Ele se refere à deterioração mental causada pelo consumo excessivo de conteúdo superficial e pela sobrecarga digital. A Oxford University Press destacou que essa expressão representa a sensação de que nossa mente está sendo prejudicada pelo consumo indiscriminado de informações on-line.
Estudos apontam que o uso excessivo de telas está ligado ao aumento da ansiedade, insônia e dificuldades de concentração. As redes sociais, em especial, operam em um modelo que vicia o usuário, criando ciclos de recompensas rápidas que tornam difícil se desconectar.
E o tempo gasto no mundo digital tem um custo no mundo real: menos interações presenciais, menos atividades ao ar livre, menos tempo de ócio criativo – aquele momento em que a mente relaxa e pode gerar ideias inovadoras.
Outro efeito colateral do uso excessivo da internet é a sensação de isolamento. Apesar de estarmos sempre conectados, a qualidade dessas conexões é questionável. Muitos brasileiros trocam momentos significativos de convívio familiar e social por interações superficiais nas redes.
Além disso, há o impacto na produtividade. A cultura da hiperconexão leva a um ambiente onde notificações interrompem constantemente tarefas importantes, criando um cenário de dispersão e dificuldade de manter o foco por longos períodos.
A solução não é demonizar a internet – afinal, ela é essencial para trabalho, estudo e lazer. Mas encontrar um equilíbrio se tornou uma necessidade urgente. Algumas práticas podem ajudar:
Monitorar o tempo de tela: Aplicativos como Digital Wellbeing e RescueTime ajudam a entender quanto tempo passamos conectados e onde podemos reduzir.
Criar períodos off-line: Definir momentos do dia sem celular, como antes de dormir ou durante as refeições, pode melhorar a qualidade de vida.
Consumir conteúdo com propósito: Usar o tempo on-line para aprendizado, desenvolvimento pessoal e conexões reais pode tornar a internet uma aliada e não um vilão.
Priorizar o mundo real: Buscar atividades que exijam presença física, como esportes, leitura e encontros presenciais, ajuda a equilibrar o uso da tecnologia.
Se a internet faz parte da nossa rotina, cabe a nós decidir como e quanto tempo queremos dedicar a ela. O desafio é sair do piloto automático e transformar nossa relação com o digital para que ele jogue a nosso favor – e não contra nós.