08/06/2010

Como reduzir ou substituir o uso de plástico em nossa rotina diária?

A jornalista Manuela Salazar, trainee da Gazeta do Povo, bem que tentou – mas chegou à conclusão de que a experiência de, durante um dia inteiro, não utilizar nada que contenha plástico, é tarefa quase impossível. “Sem plástico a gente faz o quê?”, questionou ela, ao finalizar sua reportagem.
 
“O plástico é hoje uma espécie de invólucro do mundo. Em 100 anos, ele dominou nosso dia a dia. É o produto em si e o meio que o transporta. No supermercado, as gôndolas são de plástico, muitos artigos levam plástico, têm embalagem de plástico e são levados para casa em sacolas de… plástico. Este derivado do petróleo está na indústria, no comércio, na medicina, no setor de transportes, em tudo! Inspirada nessa onipresença, decidi experimentar viver um dia sem usar nada feito do material”.
 
O relato de Manuela, só com este primeiro parágrafo transcrito acima, serve para angustiar qualquer pessoa preocupada com o meio ambiente. Acompanhar as dificuldades dela para evitar o plástico em casa, no trabalho, no restaurante, no transporte coletivo e em estabelecimentos comerciais como supermercados, farmácias e panificadoras é perceber o quanto de fato é difícil livrar-se deste que é um dos maiores vilões do século XXI.
 
Derivado do petróleo, o plástico que estamos acostumados a utilizar é relativamente barato e higiênico, mas não degradável – apesar de poder ser reciclado ou reaproveitado. No entanto, de acordo com o Instituto Sócio-Ambiental do Plástico, são reciclados apenas 17,4% do total consumido no Brasil. Mais de 80%, portanto, do plástico que utilizamos não é reciclado, o que significa que cada item levará aproximadamente 300 anos para se decompor. Enquanto isso, bueiros serão entupidos e a natureza, poluída.  
 
Diante deste quadro, faz-se cada vez mais necessário pensar em formas de reduzir ou substituir o uso do plástico em nossa rotina. O vídeo a seguir, utilizado recentemente pela equipe do Instituto RPC no Blog Giro Sustentável, apresenta uma visão que suscita debates – especificamente sobre a questão das garrafas plásticas:
 
 
  
Para quem argumenta que a água de torneira em muitos municípios e em outros lugares do mundo não é potável, a resposta mais comum é a utilização de filtros. Assim, por certo que não consumir mais água em garrafas plásticas poderia ajudar a atenuar a questão ambiental. Mas o problema do plástico não se restringe só a isso: há diversos outros produtos produzidos da mesma maneira.
 
A reportagem da jornalista Aniela Almeida, da Gazeta do Povo, no dia 02 de junho, tratou das sacolas plásticas, outra dor de cabeça para ambientalistas e o poder público. No ano passado, uma campanha do governo federal, que envolveu entidades sociais e grandes redes de supermercado, conseguiu evitar o uso de 600 milhões de sacolas (4% do que foi produzido durante o ano – a campanha pretende chegar a 10% este ano).
 
O desafio é brutal e urgente. Dados do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) indicam que sacolas plásticas estão chegando a locais distantes, considerados paraísos ecológicos e turísticos. Por isso, é necessário incorporar hábitos conscientes neste aspecto, como levar sua própria sacola para carregar compras, utilizar caixas de papelão e sempre optar por embalagens retornáveis. (Há mais dicas aqui). 
 
E não é só do consumidor a responsabilidade. Grandes redes de supermercado, como Walmart e Carrefour, têm implantado formas de incentivar o consumo sustentável. Campanhas como “Cliente Consciente Merece Desconto”, “ecocaixas” (caixas especiais para quem leva sua própria sacola) e práticas já comuns em países europeus, de se cobrar pela sacola plástica que se oferece (e que no futuro deverá ser biodegradável), são possibilidades reais de beneficiar aqueles que estiverem preocupados com o meio ambiente.
 
Substituindo…
Não deve ser descartada, ainda, a possibilidade de utilização do plástico – desde que não seja o derivado de petróleo. O Brasil é pioneiro na criação de plástico alternativo: em 2011, a petroquímica Braskem e a Tetrapak planejam fornecer 5 mil toneladas de polietileno (nome científico do plástico) feito de etanol. No Paraná, a ideia de substituir as atuais sacolas de plástico por embalagens oxibiodegradáveis virou projeto de lei e está tramitando na Assembleia Legislativa do estado. E no Peru, conforme divulgou Mariana Sanchez no Blog do Viver Bem, um grupo de cientistas da Pontifícia Universidade Católica conseguiu desenvolver em laboratório um tipo de plástico elaborado a base de amido de batata, que além de ser biodegradável é também biocompostável (se decompõe e vira adubo).
 
Os adeptos destas opções afirmam que a matéria-prima das em­­balagens contaria com um aditivo químico que aceleraria a decompo­­sição do plástico em contato com a terra, luz e água e o tempo da degradação seria cem vezes menor que o plástico comum. No entanto, há quem discorde, dizendo que ainda não existem estudos suficientes que comprovem a eficácia das novas tecnologias.